O uso do Computador na Educação:
a Informática Educativa
Nos dias de
hoje, tornou-se trivial o comentário de que a tecnologia está presente em todos
os lugares, o que certamente seria um exagero. Entretanto, não se pode negar que a informática, de forma
mais ou menos agressiva, tem intensificado a sua presença em nossas vidas.
Gradualmente, o computador vai tornando-se um aparelho corriqueiro em nosso
meio social. Paulatinamente, todas as áreas vão fazendo uso deste instrumento e
fatalmente todos terão de aprender a conviver com essas máquinas na vida
pessoal assim como também na vida profissional.
Na educação não seria diferente. A manipulação dos computadores,
tratamento, armazenamento e processamento dos dados estão relacionados com a
idéia de informática. O termo informática
vem da aglutinação dos vocábulos informação + automática. Buscando um
sentido léxico, pode-se dizer que Informática é: “conjunto de conhecimentos e
técnicas ligadas ao tratamento racional e automático de informação
(armazenamento, análise, organização e transmissão), o qual se encontra
associado à utilização de computadores e respectivos programas.” (LUFT, 2006:365).
Almeida (2000: 79), estudioso
do assunto, refere-se ao computador como “uma máquina que possibilita testar
idéias ou hipóteses, que levam à criação de um mundo abstrato e simbólico, ao
mesmo tempo em que permite introduzir diferentes formas de atuação e interação
entre as pessoas.” Sendo, por conseguinte, um equipamento que assume cada vez
mais diversas funções. Como
ferramenta de trabalho, contribui de forma significativa para uma elevação da
produtividade, diminuição de custos e uma otimização da qualidade dos
produtos e serviços. Já como ferramenta de entretenimento as suas
possibilidades são quase infinitas.
Através da Internet, é possível ignorar o
espaço físico, conhecer e conversar com pessoas sem sair de casa, digitar
textos com imagens em movimento (gifs), inserir sons, ver fotos, desenhos, ao
mesmo tempo em que podemos ouvir música, assistir vídeos, fazer compras,
estreitar relacionamentos em comunidades virtuais, participar de bate-papos (chats),
consultar o extrato bancário, pagar contas, ler as últimas notícias em tempo
real, enfim, trabalho e lazer se confundem no cyberespaço.
Embora seja um instrumento fabuloso devido a sua
grande capacidade de armazenamento de dados e a facilidade na sua manipulação
não se pode esquecer que este
equipamento não foi desenvolvido com fins pedagógicos, e por isso é importante
que se lance sobre o mesmo um olhar crítico e se busque, face às teorias e
práticas pedagógicas, o bom uso desse recurso. O mesmo só será uma excelente
ferramenta, se houver a consciência de que possibilitará mais rapidamente o
acesso ao conhecimento e não, somente, utilizado como uma máquina de escrever,
de entretenimento, de armazenagem de dados. Urge usá-lo como tecnologia a favor de uma educação mais dinâmica, como
auxiliadora de professores e alunos, para uma aprendizagem mais consistente,
não perdendo de vista que o computador deve ter um uso adequado e
significativo, pois Informática Educativa nada tem a ver com aulas de
computação.
Valente
(1993: 16) esclarece que “na educação de forma geral, a informática tem sido
utilizada tanto para ensinar sobre computação, o chamado computer literacy,
como para ensinar praticamente
qualquer assunto por intermédio do computador”. Assim, diversas escolas têm
introduzido em seu currículo escolar, o ensino da informática com o pretexto da
modernidade. Cada vez mais escolas, principalmente as particulares, têm
investido em salas de informática, onde geralmente os alunos freqüentam uma vez
por semana, acompanhados de um monitor ou na melhor hipótese, de um estagiário
de um curso superior ligado à área, proficiente no ensino tecnicista de
computação.
Deste modo,
ao invés de aprender a utilizar
este novo aparato tecnológico em prol de aprendizagem significativa e do acesso
universal ao conhecimento, os alunos eram e ainda são
“adestrados” no uso da mais nova tecnologia computacional, em aulas
descontextualizadas, sem nenhum vínculo com as demais disciplinas e sem nenhuma
concepção pedagógica.
Na mesma
linha de raciocínio, proliferam em todo país, escolas especializadas no ensino
de Informática, na qual o uso da máquina é o principal objeto de estudo, ou
seja, o aluno adquire conceitos computacionais, como princípios de
funcionamento do computador, noções de hardware e software, além de uso sociais
da Tecnologia de Informação e Comunicação – TICs. Entretanto, a maior parte dos
cursos oferecidos nessa modalidade podem ser caracterizados como tecnicistas,
ou seja, de conscientização do estudante para o uso da informática enquanto
técnica, habilitando-o somente para utilizar o equipamento, em nome de uma
pseudo-educação profissional que visa somente a formação tecnológica, em
detrimento da educação cidadã.
A maioria dos docentes destes cursos, sequer tem
formação universitária em Centros de Educação, são inexperientes, tem pouco
conhecimento de didática e das teorias pedagógicas, enfim, acabam trazendo para
sala de aula, o improviso e as práticas de ensino mecanicistas e repetitivas de
cunho tradicionalista sem qualquer preocupação com o desenvolvimento cognitivo
de seus alunos. Essa visão de informática pouco altera a realidade educacional,
já que traz em seu bojo, um laboratório pouco dinâmico, “engessado” em
apostilas estáticas cujas atualizações, quando ocorrem, desvirtuam a verdadeira
função social da escola, pois, impossibilitam a construção do conhecimento e a
troca de saberes.
A esse respeito, comenta Valente (2003:06) “isto tem
contribuído para tornar esta modalidade de utilização do computador
extremamente nebulosa, facilitando sua utilização como chamarisco mercadológico”.[1] Certamente esse não é o enfoque da Informática
Educativa e, por conseguinte, não é a maneira como a tecnologia deve ser usada
no ambiente escolar.
A Informática Educativa se caracteriza pelo
uso da informática como suporte ao professor, como um instrumento a mais em sua
sala de aula, no qual o professor possa utilizar esses recursos colocados a sua
disposição. Nesse nível, o computador é explorado pelo professor especialista
em sua potencialidade e capacidade, tornando possível simular, praticar ou
vivenciar situações, podendo até sugerir conjecturas abstratas, fundamentais a
compreensão de um conhecimento ou modelo de conhecimento que se está
construindo. (BORGES, 1999: 136).
A Informática
Educativa privilegia a utilização do computador como a ferramenta pedagógica
que auxilia no processo de construção do conhecimento. Neste momento, o computador é um meio e não um fim,
devendo ser usado considerando
o desenvolvimento dos componentes curriculares. Nesse sentido, o
computador transforma-se em um poderoso recurso de suporte à aprendizagem, com inúmeras possibilidades
pedagógicas, desde que haja uma reformulação no currículo, que se crie novos modelos
metodológicos e didáticos, e principalmente que se repense qual o
verdadeiro significado da aprendizagem, para que o computador não se torne mais
um adereço travestido de modernidade.
Aliás,
esta é principal preocupação dos pesquisadores: se a inserção da informática no
âmbito escolar de fato traga inovações com benefícios a todos os envolvidos ou
se o computador é apenas mais um modismo passageiro, como ocorreu com o Telensino.
O Telensino foi uma modalidade de ensino, uma experiência de utilização
da tecnologia, em particular da televisão em sala de aula que se iniciou em
1974, mas foi na década de 90 implementada em todo o Estado do Ceará, atingindo
cerca de 300.000 alunos. Esta proposta permitiu ampliar o número de matriculas
e universalizar o ensino fundamental principalmente em regiões interioranas do
Estado. As escolas foram bem equipadas e os professores foram treinados a ser
tornarem orientadores de aprendizagem, contudo a falta de assistência técnica,
de objetivos claros, de uma metodologia apropriada à realidade local, a falta
de material didático (faltavam desde manuais de ensino, fitas cassetes com as
aulas, energia elétrica) sem contar o fato do mesmo ter sido implementado de
forma unilateral, sem uma reflexão conjunta com professores e alunos, tornou o Telensino
uma tentativa fracassada de inserção da tecnologia de informação na sala de
aula.
Borges Neto (1999) ao analisar o fenômeno brasileiro
de informatização escolar percebeu que a falta de planejamento era a tônica
reinante. Segundo o autor, este processo ocorria de forma segmentada,
descontextualizada e nuclear, ou seja, adapta-se uma sala para receber os
computadores, a famosa sala de informática, contratava-se um especialista
(geralmente indicado por um órgão desvinculado da prática educativa), fazia-se
um marketing junto à comunidade escolar, e, enfim, reordenava-se a grade
curricular para acomodar as aulas de informática. Enquanto que para o professor
de sala de aula (polivalente ou hora-aula), tal processo ocorria desapercebidamente,
pois continuava dentro da sua triste realidade, turmas superlotadas, alunos
desmotivados, falta de material didático, tendo como únicas ferramentas
tecnológicas: o quadro negro, o giz, a voz e quando muito, o livro
didático.
Segundo
Valente (1993: 01) “para a implantação dos recursos tecnológicos de forma
eficaz na educação são necessários quatro ingredientes básicos: o computador, o
software educativo, o professor capacitado para usar o computador como
meio educacional e o aluno”, sendo que nenhum se sobressai ao outro. O autor
acentua que, “o computador não é mais o instrumento que ensina o aprendiz, mas
a ferramenta com a qual o aluno desenvolve algo e, portanto, o aprendizado
ocorre pelo fato de estar executando uma tarefa por intermédio do computador”
(p.13).
Quando o
próprio aluno cria, faz, age sobre o software, decidindo o que melhor
solucionaria seu problema, torna-se um sujeito ativo de sua aprendizagem O
computador ao ser manipulado pelo indivíduo permite a construção e reconstrução
do conhecimento, tornando a aprendizagem uma descoberta.. Quando a informática
é utilizada a serviço da educação emancipadora, o aluno ganha em qualidade de
ensino e aprendizagem.
A mudança
da função do computador como meio educacional acontece juntamente com um
questionamento da função da escola e do papel do professor. A verdadeira função
do aparato educacional não deve ser a de ensinar, mas sim a de criar condições
de aprendizagem. Isso significa que o professor precisa deixar de ser o
repassador de conhecimento – o computador pode fazer isso e o faz tão eficiente
quanto professor – e passar a ser o criador de ambientes de aprendizagem e o
facilitador do processo de desenvolvimento intelectual do aluno. (VALENTE,
1993: 06).
A chegada das tecnologias no ambiente escolar provoca
uma mudança de paradigmas. A Informática Educativa nos oferece uma vastidão de
recursos que, se bem aproveitados, nos dão suporte para o desenvolvimento de
diversas atividades com os alunos. Todavia, a escola contemporânea continua muito
arraigada ao padrão jesuítico, no qual o professor fala, o aluno escuta, o
professor manda, o aluno obedece. A chegada da era digital coloca a
figura do professor como um “mediador” de processos que são, estes sim,
capitaneados pelo próprio sujeito aprendiz. Porém, para que isso ocorra de
fato, é preciso que o professor não tenha “medo” da possibilidade de autonomia
do aluno, pois muitos acreditam que com o computador em sala de aula, o
professor pede o seu lugar.
Pelo
contrário, as máquinas nunca substituirão o professor, desde que ele
re-signifique seu papel e sua identidade a partir da utilização das novas
abordagens pedagógicas que as tecnologias facilitam. A adoção das TICs em
sala de aula traz para os educandos, muitos caminhos a percorrer e para isso é
preciso a presença do professor, pois é ele quem vai dinamizar todo este novo
processo de ensino-aprendizagem por intermédio dessa ferramenta, explorando-a
ao máximo com criatividade, conseguindo o intuito maior da Informática
Educativa: mudança, dinamização, envolvimento, por parte do aluno na
aprendizagem. Entre as vantagens potenciais desta modalidade na escola, está o
fato desta:
(...) a)
ser ‘sinônimo’ de status social, visto que seu usuário, geralmente crianças e
adolescentes, experimentam a inversão da relação de poder do conhecimento que
consideram ser propriedade dos pais e professores, quando estes não dominam a
Informática; b) possibilitar resposta imediata, o erro pode produzir resultados
interessantes; c) não ter o erro como fracasso e sim, um elemento para exigir
reflexão/busca de outro caminho. Além disso, o computador não é um instrumento
autônomo, não faz nada sozinho, precisa de comandos para poder funcionar,
desenvolvendo o poder de decisão, iniciativa e autonomia; d) Favorece a flexibilidade
do pensamento; e) estimula o desenvolvimento do raciocínio lógico, pois diante
de uma situação-problema é necessário que o aluno analise os dados
apresentados, descubra o que deve ser feito, levante hipóteses, estabeleça
estratégias, selecione dados para a solução, busque diferentes caminhos para
seguir; f) Possibilita ainda o desenvolvimento do foco de atenção-concentração;
g) favorece a expressão emocional, o prazer com o sucesso e é um espaço onde a
criança/jovem pode demonstrar suas frustrações, raiva, projeta suas emoções na
escolha de produção de textos ou desenhos. (FERREIRA,
2002:29)
A utilização da Informática Educativa pode juntar
elementos da educação formal com outros da não formal, beneficiando tanto o
aspecto prático dos meios não formais quanto a teoria mais generalizada
presente nos meios acadêmicos. Por intermédio de sites na Internet, por
exemplo, pode trazer para dentro da sala de aula, filmes ilustrando a vida de
grandes vultos do passado, ou documentários detalhando as etapas no
desenvolvimento de seres vivos, dentre outros.
A Internet possibilita um intercâmbio entre
localidades distantes, gerando trocas de experiências e contato com pessoas de
outros países. Essas “pontes” que hoje existem entre diferentes mundos
representam o único meio de acesso para quem não vive perto dos grandes centros
urbanos. Somente nas grandes cidades pode-se conviver diretamente com a
informação, ou seja, uma fatia minoritária de pessoas tem acesso à educação de
qualidade, pois tem acesso à universidade, bibliotecas, laboratórios, teatros,
cinemas, museus, centros culturais etc. É necessário, deste modo, democratizar
o acesso ao conhecimento, às tecnologias da informação e da comunicação, seja
para a formação continuada dos professores, seja para o enriquecimento da
atividade presencial de mestres e alunos.
A democratização do acesso a esses produtos
tecnológicos é talvez o maior desafio para esta sociedade demandando esforços e
mudanças nas esferas econômica e educacional. Para que todos possam ter informações
e utilizar-se de modo confortável as novas tecnologias, é preciso um grande
esforço político. Como as tecnologias estão permanentemente em mudança, a
aprendizagem contínua é conseqüência natural do momento social e tecnológico
que vivemos, a ponto de podermos chamar nossa de sociedade de “sociedade de
aprendizagem”. Todavia, a utilização de ferramentas computacionais em sala de
aula, ainda parece ser um desafio para alguns professores que se sentem
inseguros em conciliar os conteúdos acadêmicos com instrumentos e ambientes
multimídia, os quais ainda não têm pleno domínio.
Certamente, o papel do professor está mudando, seu
maior desafio é reaprender a aprender. Compreender que não é mais a única fonte
de informação, o transmissor do conhecimento, aquele que ensina, mas aquele que
faz aprender, tornando-se um mediador entre o conhecimento e a realidade, um
especialista no processo de aprendizagem, em prol de uma educação que priorize
não apenas o domínio dos conteúdos, mas o desenvolvimento de habilidades,
competências, inteligências, atitudes e valores.
A utilização
das TICs no ambiente escolar contribui para essa mudança de paradigmas,
sobretudo, para o aumento da motivação em aprender, pois as ferramentas de
informática exercem um fascínio em nossos alunos. Se a tecnologia for utilizada
de forma adequada, tem muito a nos oferecer, a aprendizagem se tornará mais
fácil e prazerosa, pois “as possibilidade de uso do computador como ferramenta
educacional está crescendo e os limites dessa expansão são desconhecidos” (VALENTE, 1993: 01).
Compete ao
professor e aluno explorarem ao máximo todos os recursos que a tecnologia nos
apresenta, de forma a colaborar mais e mais com a aquisição de conhecimento.
Ressalta-se ainda que o educando é antes de tudo, o fim, para quem se aplica o
desenvolvimento das práticas educativas, levando-o a se inteirar e construir
seu conhecimento, por intermédio da interatividade com o ambiente de
aprendizado.
É papel da escola democratizar o acesso ao computador,
promovendo a inclusão sócio-digital de nossos alunos. É preciso também que os
dirigentes discutam e compreendam as possibilidades pedagógicas deste valioso
recurso. Contudo, é preciso estar conscientes de que não é somente a introdução
da tecnologia em sala de aula, que trará mudanças na aprendizagem dos alunos, o
computador não é uma “panacéia” para todos os problemas educacionais.
As ferramentas computacionais, especialmente a
Internet, podem ser um recurso rico em possibilidades que contribuam com a
melhoria do nível de aprendizagem, desde que haja uma reformulação no
currículo, que se crie novos modelos metodológicos, que se repense qual o
significado da aprendizagem. Uma aprendizagem onde haja espaço para que se
promova a construção do conhecimento. Conhecimento, não como algo que se
recebe, mas concebido como relação, ou produto da relação entre o sujeito e seu
conhecimento. Onde esse sujeito descobre, constrói e modifica, de forma
criativa seu próprio conhecimento.
O
grande desafio da atualidade consiste em trazer essa nova realidade para dentro
da sala de aula, o que implica em mudar, de maneira significativa, o processo
educacional como um todo.
Referências
ALMEIDA, M E de. Informática e formação de professores.
Brasília: Ministério da Educação, 2000.
BORGES NETO, H. Uma classificação sobre a utilização do computador
pela escola. Revista Educação em Debate, ano 21, v. 1, n. 27, p.
135-138, Fortaleza, 1999.
FERREIRA, A. L. D. Informática educativa na educação
infantil: Riscos e Benefícios. Fortaleza:
Universidade Federal do Ceará-UFC, 2000. Monografia (Especialização em Informática Educativa )..
LUFT, C.P Dicionário Luft.
São Paulo: Atica, 2006.
VALENTE, J. A. Computadores
e conhecimento: repensando a educação. Campinas: UNICAMP. 1993.
Fonte: http://www.espacoacademico.com.br/085/85rocha.htm
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